O mundo passa pela sua 4ª revolução industrial. Para muitos estudiosos, o fenômeno desencadeia uma série de transformações, ancoradas pelas novas tecnologias exponenciais. É nesse cenário que surgem as previsões para um futuro não tão distante, dividindo opiniões: enquanto alguns estudos apontam que o futuro será repleto de oportunidades, proporcionadas por essas tecnologias e novos modelos de negócios; outros apontam, que, para tentar reestabelecer o equilíbrio entre tecnologia e seres humanos, será necessário a intervenção das instituições públicas e privadas. Esse admirável novo mundo terá um impacto profundo na forma de aprendizado das pessoas.
Empregos de menos versus novas oportunidades
Michael Osborne, especialista em inteligência artificial prevê que 47% dos empregos existentes hoje nos EUA estarão ameaçados pelos robôs até 2030. Já no Brasil, estudo realizado pela UnB revela um número um pouco mais preocupante: 54% dos empregos no país enfrentarão esse mesmo risco.
Enquanto uma onda de pessimismo toma conta de parte das instituições e estudiosos que discutem o futuro, outros números dão conta de uma nova e ampla gama de oportunidades. O Fórum Econômico Mundial, no seu relatório de 2018, estima que, para cada 1 milhão de empregos eliminados, 1,75 milhão de novos empregos poderão ser criados. A McKinsey também segue nessa linha otimista: para o instituto, mesmo com a inteligência artificial e a automação e com uma previsão de que entre 400 e 800 milhões de empregos desapareçam, haverá uma demanda para algo entre 750 milhões e 1,09 bilhão de vagas.
Estamos preparados para as mudanças?
Para isso acontecer, porém, todas previsões otimistas concordam que, haverá a necessidade de cooperação em três esferas: a social, os governos e as instituições privadas. E é nesse ponto que estão os gargalos: o equilíbrio entre essas forças. Pesquisa realizada pela Accenture informa que 67% dos entrevistados querem se educar e serem alfabetizados em tecnologia, mas, que, por outro lado, apenas 3% dos líderes das empresas entrevistadas querem investir em treinamento.
Já a Deloitte é mais enfática: segundo dados coletados pela empresa, nenhuma das três esferas — empresas, pessoas e instituições públicas — está se preparando devidamente para a ruptura social e econômica que está chegando.
Reinvenção como habilidade para o futuro
Em seu mais recente livro, 21 lições para o século XXI, Yuval Noah Harari, historiador israelense, cita a educação tradicional dividida em duas partes complementares: um primeiro período, que era o do aprendizado, quando as pessoas acumulavam informação e conhecimento, desenvolviam suas aptidões e habilidades, formavam sua visão de mundo e construíam suas identidades estáveis. O segundo período era o de aplicação dessas aptidões, conhecimentos e habilidades para seu sustento e construção social. Para Yuval, esse modelo tradicional não se encaixa mais nesse novo mundo de mudanças aceleradas: o mais importante agora será a habilidade para lidar com essas mudanças, aprender coisas novas e preservar seu equilíbrio mental em situações que não são familiares. Para acompanhar essas mudanças, teremos que nos reinventar várias e várias vezes.
Reskilling e o aprendizado contínuo
Yuval acredita que seria uma irresponsabilidade tentar deter os avanços tecnológicos para preservar os empregos das pessoas. Para o autor, o que deve estar no cerne da discussão são as pessoas, e não os empregos. Para Yuval, as pessoas que não tiverem muito claro o pensamento de aprendizado contínuo estarão fadadas ao ostracismo. O termo que melhor define essa necessidade permanente de desenvolvimento, aperfeiçoamento de habilidades e trabalho colaborativo é conhecido como Reskilling e pode ser aplicado não só às pessoas, mas também para empresas, governos e segmentos de negócios.
Novo mundo, novos papéis
Nesse novo mundo, todos — pessoas, empresas e governos — terão novos papéis para desempenhar:
Pessoas:
Nosso papel será desenvolver habilidades múltiplas para lidar com mudanças, aprender coisas novas e preservar equilíbrio mental em situações que não são familiares. Teremos que nos reinventar várias e várias vezes e as experiências passadas passarão a ser cada vez menos relevantes. Teremos que abrir mão daquilo que sabemos melhor e aprender a conviver e assimilar aquilo que não sabemos. Entre as habilidades, teremos que desenvolver e aperfeiçoar as habilidades de negócios, aquelas que compreendem áreas de conhecimento especificas, tais como design, marketing etc — as habilidades humanas, compreendendo comunicação, pensamento crítico, capacidade de adaptação, de liderança e de resolução de problemas e as habilidades digitais, que são as habilidades para lidar com tecnologias como inteligência artificial e big data, por exemplo, mas, que também envolvem um novo mindset, preparado para os desafios recorrentes dessas novas tecnologias exponenciais.
Empresas:
As empresas terão que adotar o mantra criado por Matthew Sigelman, CEO da Burning Glass Technologies: “Sua organização é movida pelas habilidades que você tem. A evolução dos indivíduos em uma empresa, em última análise, se traduz na evolução de uma empresa”. Será imprescindível que as empresas invistam cada vez mais na formação e no treinamento de seus colaboradores. Uma das soluções possíveis é que as empresas — concorrentes ou não — se unam para criar condições para a formação de profissionais. Iniciativas desse tipo terão impacto na retenção de talentos. As empresas que se destacarão serão aquelas que investem em tecnologia, mas que mantém o foco na experiência humana, criando equipes multidisciplinares e experimentando programas de incubadoras ou aceleradoras para romper com o pensamento linear. Além disso, elas terão que desenvolver a capacidade de identificar e realocar profissionais de áreas que serão extintas para novos cargos que fazem uso de habilidades similares.
Instituições e entidades públicas:
Compreendem os governos, ONG’s, instituições de ensino, sindicatos etc. Para os atores que “têm a caneta”, o envolvimento e os esforços não serão diferentes e suas decisões afetarão diretamente as demais esferas (indivíduos e empresas), isso porque a requalificação e reciclagem das forças de trabalho são a sustentação para o crescimento econômico e para evitar um colapso global no mercado de trabalho. Compartilhar aprendizados será essencial para a descoberta de abordagens eficazes. Outro ponto que chama atenção é que a requalificação da força de trabalho poderá exigir aportes financeiros dos setores público e privado, criando mecanismos ágeis de proteção social e propostas que evitem a desestabilização da renda dessas pessoas.
Reskilling: convite ao debate
Para debater o futuro dos empregos criamos a web série Reskilling, um programa que apresenta o olhar de seis convidados — Arthur Igreja (AAA), Leandro Henrique de Souza (How Bootcamps), Victoria Figueria (Glovo), Adeildo Nascimento (ABRH/MadeiraMadeira), Barbara Ritzmann (CINQ Technologies) e Tiago Moreira (Mirum) — tratando de temas como as novas configurações do trabalho, novos modelos de ensino e nova economia, habilidades que farão a diferença na educação. Você pode conferir os 6 episódios da web série no canal do YouTube da escola: