No Brasil, estudo realizado pela Universidade de Brasília, aponta que a automação pode substituir 30 milhões de vagas nos próximos sete anos.
Em seu relatório O Futuro dos Empregos, de 2018, o Fórum Econômico Mundial apresenta números positivos: a nova economia criará 133 milhões de postos de trabalho até 2025. A parte que assusta é que, dessas ofertas, 54% delas exigirão habilidade que ainda não existem, o que dá um panorama sobre a profundidade da transformação digital que nos aguarda ali, na esquina de nossas vidas.
Os investimentos lá fora e aqui dentro
A consultoria International Data Corporation informa que os valores investidos em transformação digital no ano de 2019 devem ficar na casa de 1,7 trilhão de dólares, enquanto no Brasil, os números apresentados pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação dão conta de um montante de 345,5 bilhões de reais entre o período entre 2019 e 2022, com concentração dos investimentos em IoT, nuvem e big data/analytics.
Estamos falando de humanos, não de tecnologia
Fato que pode ser entendido como contraditório é que quando se fala em transformação digital, o pensamento sempre está voltado para a tecnologia, mas, o que estará em evidência, na verdade, são os elementos e habilidades puramente humanos, como a capacidade de se adaptar, velocidade para reagir às mudanças, resiliência e capacidade de aprender com os erros, além de outros elementos como empatia, capacidade de liderança e de trabalhar em equipe. O que se espera é que estejamos preparados para nossa própria recriação, quantas vezes isso for necessário e isso passa necessariamente por uma mentalidade de aprendizado continuo. Claro que os conhecimentos sobre tecnologia têm sua importância, mas não se espera que todos nós saibamos programar, mas que tenhamos conhecimento suficiente para entender como usar as tecnologias para a resolução de problemas.
“Eu fui contratado para essa função”
Esqueça esse chavão! Você foi contratado não para exercer a função de apertador de parafusos — esse modelo já está devidamente em seu lugar, o passado — e sim para aprender novas habilidades, não ter medo de cometer erros nesse processo e trabalhar em times formado por pessoas de perfis completamente distintos do seu e exercendo as mais diversas funções.
O que adicionar na sua bagagem de competências e novas habilidades
Quando falo sobre focar no lado humano dessa revolução, não estou dizendo que podemos nos dar ao luxo de ignorar a tecnologia. O que precisa ficar claro é que a tecnologia não pode ser encarada como um fim — nem por desenvolvedores, nem por empresas de tecnologia e nem pelo resto de nós — mas, como um meio necessário — ou ponte — para essa mudança de mindset: conhecer e estudar temas como análise de dados, machine learning, inteligência artificial, linguagens usadas em programação, segurança de dados, integração de softwares, design centrado no usuário e desenvolvimento de produtos digitais são alguns dos temas que certamente farão diferença para o profissional T-shaped.
Habilidades em alta
Pesquisa recente realizada pela Gartner, empresa americana de consultoria mapeou as cinco competências para o desenvolvimento de destreza digital: adaptabilidade; jogo de cintura nos relacionamentos; gosto pelo trabalho colaborativo; perspicácia nos negócios; e pensamento sistêmico. Confira:
1. Visão de negócio
Entender o contexto interno da empresa ou da startup para a qual trabalha, assim como compreender em profundidade o setor.
2. Adaptabilidade
Possuir abertura para atuar em novos modelos de trabalho, como os que empregam as metodologias ágeis.
3. Jogo de cintura político
Saber dialogar, construir pontes e influenciar parceiros internos e externos.
4. Capacidade de coligar
Colaborar com alguém parecido com você é uma tarefa simples. Complicado mesmo é fazer isso com colegas que pensam e trabalham de um jeito diferente.
5. Pensamento sistêmico
Ser capaz de criar correlações entre tecnologias e processos nos quais se está inserido.
Como aprender?
Mas, a universidade e os sistemas de ensino estão preparados para essa transformação? Aqui, entram algumas considerações:
1. Os sistemas tradicionais de ensino e as universidades não conseguirão fazer todas as entregas necessárias no tempo devido, mas não devem ser as únicas responsabilizadas por isso.
2. As organizações privadas terão que ser mais presentes, participando ativamente da reconstrução desse profissional — que pode ser através da criação de seus próprios sistemas para diminuir esse gap de ensino (como universidades, treinamentos, cursos etc), através de incentivos e destinação de verba para o aprendizado de seus profissionais ou mesmo associação, parceria ou aquisição de empresas de educação que oferecem cursos rápidos.
3. E o governo? Vivemos um grande retrocesso no que diz respeito aos investimentos em educação, justo quando é necessário que se invista mais na formação das pessoas, no ensino do pensamento crítico, nas habilidades que farão diferença para um futuro próximo e na capacitação de profissionais de educação, unindo o conhecimento teórico com as experiências práticas de quem vive e aplica o conhecimento no dia a dia. Será necessária uma mudança de postura por parte dos governantes e das políticas de investimento em educação para que não tenhamos um número ainda maior de analfabetos digitais.
4. Nosso papel. Se no passado poderia ser uma estratégia confortável lavar as mãos acusando as partes acima de não terem cumprido com seus deveres, a realidade que bate à nossa parte é que com a quantidade de informações disponíveis, com valores acessíveis para todos e com infinitas roupagens e formatos, não há como criar desculpas: são cursos online, formações completas e gratuitas, entregas de conteúdo relevantes, os tutoriais do YouTube, as formações criadas para nichos específicos, eventos e palestras, cursos de curta duração, possibilidade de aconselhamentos por mentores, troca de conhecimento peer to peer, aprendizado por estudos de casos e tantos outros modelos que, comprovadamente, farão de nós profissionais e pessoas melhores. Simplesmente não dá mais para cruzar os braços.
5. Esse aprendizado pode ser adquirido em modelos como Reskilling — a necessidade permanente de desenvolvimento, aperfeiçoamento de habilidades e trabalho colaborativo e desenvolvimento de habilidades complementares — no formato upskilling — que compreende o aprimoramento das qualificações — e no lifelong learning — que, como o próprio já diz, está relacionado ao aprendizado contínuo, pela vida toda.
Renato “Minas” Buiatti é educador e cofounder da How.