Eu tenho um círculo de pessoas — conhecidos, amigos ou não — em quem confio e que sempre consulto para temas tão distintos quanto informações sobre imóveis, escolha de vinhos, instrumentos musicais, vinis de jazz, receitas culinárias, jardinagem, pets, aplicações financeiras e livros. Eu acredito que você também tenha “as suas fontes”, certo? Curadoria: esse é o tema desse artigo.
CURADORIA E A CAUDA LONGA
Essas pessoas ganharam ainda mais relevância desde que a internet viabilizou mercados, produtos e serviços de nicho — o que Chris Anderson denominou de Cauda Longa em seu livro que leva o mesmo nome. Com os mercados de nicho rivalizando com blockbusters e hits, mudamos um dos princípios da economia: da ciência da escassez para a ciência da abundância.
Abundância e reputação
A abundância de ofertas representou uma ruptura tão grande no modelo tradicional econômico, que gerou um certo desconforto para as pessoas que passaram por esse período de transição, uma vez que, de uma hora para outra, tínhamos acesso a tudo, a qualquer hora do dia. Por mais que as escolhas agora sejam infinitas e que a gente tenha o poder de simplesmente mudar de URL ou de canal na hora que bem entendemos, o papel de pessoas com reputação em suas áreas de atuação nunca fez tanto sentido como agora.
A ERA DA CURADORIA
Esse excesso de informações, de possibilidades e de ofertas também é tema do livro A Era da Curadoria, de Mario Sergio Cortella e Gilberto Dimenstein, um olhar sobre curadoria na comunicação e na educação. No livro, Cortella e Dimenstein afirmam que devemos ser mais criteriosos ao decidir quais os temas que devemos priorizar em nossas vidas, ou, nas palavras dos autores “o que importa é saber o que importa”.
Olhando dentro da nossa casa
Aqui, na How, os processos de curadoria são parte do nosso DNA, nossa essência. Nosso propósito sempre foi o de desenvolver habilidades para a nova economia, com a criação de cursos imersivos, práticos e que podem ser aplicados no dia a dia das pessoas. A gente acredita que a melhor maneira de fazer isso é através de um processo de seleção criterioso dos facilitadores que vão dividir o seu conhecimento com os nossos alunos.
CURADORIA — HISTÓRIA E ARTE
Sempre que se fala de curadoria é comum que se remeta ao processo desenvolvido por agentes de arte e de museus. Para conhecer mais sobre esse universo é preciso falar sobre Vasari. Vasari, o primeiro curador?
Giorgio Vasari (1511–1574) é considerado um dos precursores da profissão de curador. Em matéria publicada no Estadão, Sheila Leirner cita o livro Vidas dos Artistas como uma das primeiras obras sobre o tema.
Além de ser considerado o primeiro historiador de arte italiano, como crítico e biógrafo dos grandes gênios do Renascimento italiano, Vasari — que também era arquiteto e pintor -, é o autor do Corridor Vasari, que liga o Uffizi ao Palazzo Pitti, e das pinturas das paredes e do teto da Sala di Cosimo no Palazzo Vecchio, em Florença.
Sheila Leirner e a curadoria de arte
Ainda na mesma matéria, Sheila Leirner — jornalista, crítica de arte, escritora e também curadora — defende que os curadores sempre existiram e que curadoria é “uma “crítica tridimensional”, que usa a arte como medida, fazendo da exposição um espelho da aventura criativa” e que, mesmo não sendo necessária uma formação específica, a curadoria exige o reconhecimento da competência do curador.
A CURADORIA DIGITAL
A curadoria hoje é um negócio tão relevante que criou (na verdade, resgatou) um modelo de negócios adotado por muitas empresas exponenciais. Separei alguns exemplos de curadoria e desse modelo de negócios para você:
O TED dispensa maiores apresentações, não é mesmo? Na minha opinião é uma das principiais plataformas de disseminação de ideias do mundo. Comandada por Chris Anderson — não aquele Chris que escreveu Cauda Longa, citado acima — o TED, fundado no ano de 1984, é a personificação da curadoria de conteúdo relevante na internet. Suas palestras já foram traduzidas em mais de 100 línguas.
Update or die
Fundado no ano de 2004 e comandado por Wagner Brenner e Gustavo Giglio, o Update or die é um dos maiores fenômenos da internet brasileira. Contando com um grande grupo de curadores em áreas como design, criatividade, comportamento, música, tecnologia, cinema, ciência, propaganda, tv & séries, fotografia, games, entretenimento e esportes, espalhados por cantos do mundo como Paris, Genebra, Atlanta, São Francisco, Nova Iorque, Buenos Aires, China e Japão, os updates se auto-denominam “um grande jornal, mas feito por não-jornalistas”.
CURADORIA E OS CLUBES DE ASSINATURA
Modelo de negócios que adota a curadoria como um de seus diferenciais são os clubes de assinatura. O modelo não é exatamente inovador — basta lembrar o formato adotado pelos periódicos de comunicação, como jornais, revistas, TV a cabo etc — mas, com a transformação digital ganharam nova roupagem, funcionalidades e características que permitem o crescimento exponencial. Os números desse modelo de negócios mostram quem os clubes de assinatura constituem um mercado em ascensão.
Números do mercado de assinatura
Estudo realizado pela Deloitte Global mostra que, no final de 2018, 50% dos adultos de países desenvolvidos assinavam pelo menos dois veículos de comunicação e que, até o final de 2020, esse número deverá dobrar (de dois para quatro veículos).
Os clubes de assinaturas não ficam restritos aos veículos de comunicação, como aponta um levantamento conduzido pela Digital Entertainment Group mostrando que empresas de streaming de vídeos e séries, como Netflix, Hulu e Amazon Prime movimentaram 9,5 bilhões de dólares em 2017.
Em 2018, os serviços de assinaturas para compras online mais bem sucedidos em solo norte americano foram Amazon, Dollar Shave Club, Ipsy, Blue Apron e Birchbox.
TAG Experiências Literárias
Já imaginou que incrível ler um livro indicado por Luis Fernando Veríssimo, por Mario Vargas Llosa (Nobel de Literatura), Frei Betto ou Luis Fernando Pondé? Esse é o modelo de negócios da TAG e esses são alguns dos nomes que já prestaram seus dotes de curadoria para a marca.
Todos os meses você recebe em casa uma caixa com um kit composto por uma edição exclusiva do livro, revista sobre o autor e sua obra, entrevistas do curador, além de brindes e souvenirs.
Criada por Gustavo da Cunha, Arthur Dambros e Tomás Susin, ex-alunos do curso de Administração da UFRGS, a TAG, que começou suas operações com 65 assinantes em 2014, é, hoje, um dos maiores clubes de assinaturas de livros do mundo, com aproximadamente 50 mil assinantes. Em 2018, a TAG recebeu o The Quantum Innovation Award, prêmio internacional de inovação concedido pela feira do livro de Londres.
Alguns outros modelos legais para você se ligar
Mubi
Uma espécie de Netflix para cinéfilos, o Mubi funciona como curadoria de filmes clássicos, produções independentes e cult. Todos os dias um novo título — são 30 filmes por mês, no total — é indicado por um dos curadores da plataforma, ficando disponível por um período de 30 dias. Depois disso, o filme é retirado do catálogo, dando lugar a outro filme.
The Market
O The Market é um clube de assinaturas para os amantes da gastronomia. Criado em Curitiba por chefs de cozinha, o The Market funciona de maneira bem prática: a cada 15 dias o assinante seleciona uma receita do site e recebe em sua casa os ingredientes para o seu preparo. Além disso, na plataforma, o assinante pode contar com o suporte de um vídeo com o passo a passo da preparação da receita. O site também oferece opções de presentes (ingredientes e receitas — acompanhadas ou não de vinho — para duas pessoas).
Clube Wine
Se a conversa é vinho, então está aqui outra sugestão para você: o Clube Wine. Você escolhe um dos seis planos da plataforma (essenciais, surpreendentes, notáveis, singulares, refrescantes e espumantes), que dá direito a dois vinhos, a revista Wine e um corta-gotas. Os planos são mensais.
Clube do Malte
Agora, se você gosta é de cerveja, então, a dica é o Clube do Malte. No site, você encontra três modalidades de planos mensais e três planos semestrais. Os planos dão direito a duas ou quatro cervejas artesanais, copos e revista exclusiva.