Recebi, essa semana, uma mensagem do Leandro, founder da How, com um link para o texto “What Kids Need to Learn to Succeed in 2050”, escrito por Yuval Noah Harari — já referenciado nesse canal. Como não poderia deixar de ser, o artigo gera aquele mal estar e incomodação que são particularidades da escrita precisa e cirúrgica do historiador israelense. Esse artigo será o guide line da nossa conversa.
Reinvenção como skill
Começa com o subtítulo do artigo de Yuval: “The art of reinvention will be the most critical skill of this century”.
Esse tema tem sido minha obsessão (saudável) como educador: como podemos nos preparar e preparar as pessoas para um mundo de incertezas e transformações instantâneas e radicais? Quais são as habilidades que deveremos desenvolver para entender e ser útil nesse mundo?
O futuro nunca foi tão incerto
Yuval destaca que os humanos sempre tiveram dificuldades em prever o futuro, mas que esse desafio é muito maior atualmente porque a tecnologia que nos permite projetar corpos, mentes e cérebros é a mesma que nos torna incapazes de fazer tais previsões. Se hoje, pessoas capazes de criar produtos e ter ideias inovadoras são as mais desejadas pelo mercado de trabalho, no futuro próximo, além dessas habilidades, será necessário que se reinventem constantemente.
DEIXE SUAS BAGAGENS
Em um trecho do livro 21 lições para o século XXI, Yuval destaca que as experiências adquiridas ao longo da vida serão cada vez menos relevantes e que teremos que abrir mão daquilo que sabemos melhor e aprender a conviver e assimilar aquilo que não sabemos: “para correr tão rápido, não leve muita bagagem consigo. Deixe para trás suas ilusões. Elas são pesadas demais”.
Visão holística e curadoria
E o aprendizado? Se fomos educados pelas escolas e universidades dizendo que o professor exercia o papel de transmitir conhecimento e informação, nessa nova economia, tudo o que as pessoas não precisam é de mais informação, porque isso elas já têm de sobra. Para Yuval, a reinvenção do aprendizado passa pela combinação das informações de maneira holística e do papel do curador, orientador ou mentor: aquela pessoa que irá auxiliar as demais à identificarem o que é relevante para seus objetivos.
Be the water
Como naquele famoso vídeo de Bruce Lee ou nos livros de Bauman, ser flexível e adaptável como a água será um diferencial para quem deseja continuar fazendo a diferença. Manter a identidade, emprego ou visão de mundo estáveis, não é um bom caminho à seguir, correndo o risco de se tornar irrelevante, “dado que expectativa de vida provavelmente aumentará, você poderá passar muitas décadas como um fóssil ignorante”.
Conselhos para um garoto de 15 anos
Escrevo essas linhas do alto dos meus 47 anos, mas, o conselho de Yuval é “não confie demais nos adultos”. Por mais que existia certa segurança em seguir e repetir o passo dos adultos num passado não tão distante, não é isso que se repetirá no futuro: por causa do ritmo acelerado das mudanças, um garoto de 15 anos não saberá se o conselho que está recebendo de um adulto é sabedoria eterna ou preconceito desatualizado.
Tecnologia: vilã ou aliada?
Yuval coloca que a tecnologia não é ruim, desde que se tenha uma ideia muito clara dos objetivos de vida. Mas, caso você ainda não saiba qual caminho trilhar e quais são os seus verdadeiros interesses, a tecnologia poderá ocupar o papel de manipuladora, assumindo o controle de sua vida. Em uma referência clara à inteligência artificial e ao big data, Yuval afirma que quanto mais a tecnologia é empregada para compreender os homens, maiores as probabilidades de sermos servidores ao invés de sermos servidos. O exemplo usado por Yuval para ilustrar essa afirmação são as pessoas — que ele classifica como zumbis — que trafegam pelas ruas com os rostos colados em seus smartphones. Esse é um exemplo claro de que a tecnologia está no comando.
Filosofia e futuro
Conhecer a si mesmo pode ser o ingrediente essencial para que você mantenha o controle de sua vida e garante que, no futuro, você ainda tenha a liberdade de fazer suas próprias escolhas. Pode parecer contraditório que em um mundo que será denominado pelas tecnologias exponenciais, tentar compreender o que faz com que você seja humano, desenvolver e aperfeiçoar habilidades comportamentais pode ser a chave para uma vida digna. Caso isso não faça diferença para você, o conselho de Yuval é “ceder a autoridade a algoritmos e confiar neles para decidir as coisas para você e o resto do mundo.
Conclusão?
Que estamos vivendo um período de grandes transformações, não se discute, o que chama atenção, na verdade, é que não temos um quadro completo de um futuro próximo e muito menos daquele — aparentemente — distante. A grande recomendação de Yuval é que o ato de se reinventar possa ser encarado como uma skill que poderá nos auxiliar nesse novo mundo que se descortina.
Renato “Minas” Buiatti é educador e cofounder da How.