Tenho falado bastante sobre temas como lifelong learning, reskilling, upskilling e também sobre os papeis dos agentes que compõem esse quadro: indivíduos, organizações privadas e instituições e entidades públicas.
Nesse artigo, vou focar no desenvolvimento dentro das organizações e como elas podem contribuir com o aprendizado contínuo.
“Sua organização é movida pelas habilidades que você tem. A evolução dos indivíduos em uma empresa, em última análise, se traduz na evolução de uma empresa”. Matthew Sigelman, CEO da Burning Glass Technologies.
Se o momento vivido é de transformações profundas em mercados e na forma de se trabalhar, também passa pela necessidade contínua de requalificação, aprendizado de novas habilidades e pelo interesse das organizações em investir na qualificação desse profissional. Incentivar e criar condições para o aprendizado contínuo será entendido como diferencial por pessoas na hora de escolher onde gostariam de trabalhar, mas também serão identificados como propósito e posicionamento de marca.
Por onde começar?
Em ambientes de mudanças de ritmo acelerado, como o das startups/organizações exponenciais, o aprendizado de novos métodos, desenvolvimento e aplicação de processos são algumas das atividades que exigem essa incrível, e cada vez mais requisitada, habilidade de reinvenção do profissional. Para que isso aconteça no ritmo que se pretende, uma nova forma de liderança deve ser destacada: aquela que acredita que o ato de se aperfeiçoar deve ser visto como algo contínuo, não como uma necessidade temporária ou como uma necessidade pontual para deixar o currículo mais robusto e atrativo. Esse mindest deve ser compartilhado com todas as pessoas da empresa, mas, atenção: ele também parte do princípio da liderança pelo exemplo — não adianta pregar o aprendizado contínuo e não se dedicar ao autodesenvolvimento.
Quais habilidades devem ser desenvolvidas?
O desenvolvimento de habilidades pode ser dividido em três grupos de habilidades distintas:
– Hard Skills — são as habilidades que desenvolvemos em áreas específicas — como design, marketing, finanças — e que são colocadas em prática no dia a dia.
– Soft Skills — essas são as consideradas soft skills e incluem comunicação, pensamento crítico, adaptabilidade, capacidade de resolver problemas, liderança, criatividade e inovação.
– Digital Skills — Área que apresenta o maior gap para as pessoas, porque envolve não apenas habilidades para lidar com tecnologias como inteligência artificial, big data etc mas, também, exige um novo mindset, o digital.
Tenho falado com muitas pessoas que ocupam cargos estratégicos em organizações e, uma das principais necessidades são referentes às soft skills. Além de qualidades como pensamento crítico, adaptabilidade e etc — apresentadas acima — outros pontos que são sempre destacados nessas conversas são habilidades como a capacidade de se autoconhecer, a empatia, a resiliência — uma das habilidades mais procuradas por profissionais de RH — capacidade de trabalhar em equipe e a atenção (sim, aquela habilidade de estar atento ao que se está fazendo e presente de corpo e alma na atividade ou tarefa executada).
O que pode ser feito?
São várias as formas de incentivar e fomentar o aprendizado nas empresas.
Listei algumas:
Crie programas e treinamentos e rode um piloto com um pequeno grupo de pessoas até que seja possível fazer os ajustes necessários para, posteriormente, replicar para toda a empresa. Selecione criteriosamente as pessoas que irão participar desse processo: comece com pessoas com perfil de early adopters, com personalidade mais aberta à novidades e também para aquelas pessoas com perfil de liderança, que possam replicar as informações dentro de suas equipes — dessa forma, é possível que esse movimento cause um efeito cascata na empresa e nas equipes, com a disseminação das informações e do conteúdo aprendido.
OBS: Para o grupo de funcionários mais resistentes, evite a ideia de forçar o aprendizado. Para essas pessoas, deixe bem claro quais os objetivos e os resultados que se pretende alcançar
Faça com que os líderes apoiem as iniciativas de desenvolvimento e aprendizado individualizado, incentivando as pessoas a adquirir conhecimento e compartilhar seus aprendizados.
Crie equipes multidisciplinares — uma ótima maneira de adquirir conhecimentos múltiplos é através da criação de equipes que unem pessoas de áreas distintas e, que consequentemente, terão visões diferentes sobre os desafios propostos. O aprendizado peer to peer é uma das fontes mais eficientes para que se adquira conhecimento.
Incentivar colaboradores a criar grupos e comunidades e se conectarem com pessoas que trabalham na área — apoie a participação de eventos palestras, debates, trocas de conhecimentos em grupos e comunidades com interesses em comum.
Crie espaços para a troca de informações e aprendizados, onde a interação entre as pessoas seja facilitada (cafés, espaços para leitura, atividades em equipes etc).
Estudo de casos e benchmarks — traga os cases de sucessos e fracassos de empresas que atuam em sua área de atuação ou áreas distintas da sua para a troca de informações. Fale com pessoas de outras empresas para conhecer modelos de gestão, processos, planejamento etc.
Fomente o ecossistema — uma prática que adotamos aqui é a criação de eventos abertos dentro de empresas e startups parceiras, sempre com convidados que irão relatar suas experiências vividas no dia a dia de trabalho.
Identificar as habilidades de cada profissional e fazer realocações quando for necessário — essa é uma tarefa que geralmente é desenvolvida pelo departamento de RH das empresas: identificar as habilidades individuais e atribuir funções ou áreas de trabalho a partir dessas habilidades. Esse modelo pode auxiliar no engajamento e na produtividade das pessoas.
Usar ferramentas que auxiliem a troca e a disseminação de informações entre as pessoas (das básicas, como Google Drive, Trello, Slack, Hangouts etc) até a criação de canais próprios para o depósito de conteúdo relevante.
Essas são apenas alguns dos formatos de entrega sugeridos, mas você pode e deve criar aqueles que mais se adequam à sua realidade e ao momento vivido por ela.
Renato “Minas” Buiatti é educador e cofounder da How.