OBS: Artigo escrito por Karla Ikeda para a BRQ Digital Solutions publicado originalmente aqui.
Por muito tempo negligenciado pelos designers gráficos, títulos e descritivos de produtos e serviços se tornam cada vez mais relevantes quando falamos da experiência do usuário e, ainda mais, da ferocidade de consumo da informação, fenômeno que se potencializou com o crescimento do uso de smartphones, permitindo o acesso ao conteúdo on-line a qualquer momento e local.
Quando falamos de usabilidade, uma excelente redação nada tem haver com palavras difíceis ou enormes parágrafos. Esqueça também a sua lógica! Para falar de maneira clara e objetiva com o usuário é necessário entender como ele se comunica, isto é, qual o significado cada palavra e expressão tem pra ele, independente do que elas significam de fato.
Ficou confuso, né? Vou explicar um pouco melhor te contando sobre um processo que aprendi em um curso de UX Writing do Bruno Rodrigues, grande referência no assunto: Dicionário de Vocabulário Controlado, que nada mais é do que um complemento ao manual de tom de voz da empresa para a padronização da nossa comunicação com o usuário.
Como construir um Dicionário de Vocabulário Controlado?
Para a construção deste guia, o primeiro passo será a realização de uma pesquisa de focus group com cerca de 8 a 9 pessoas (não mais de 10 para que não fique muito confuso, mas com uma quantidade expressiva de indivíduos para um recorte melhor dos termos utilizados).
Esta pesquisa não terá como objetivo saber a opinião da pessoa sobre seu produto e marca e sim ouvi-la falar sobre eles a fim de entender os sentimentos envolvidos quando cada palavra é emitida.
UX Writing e UX Research andam muito mais juntos do que podemos imaginar, por isso, é importante contar com o apoio de Research para a construção do formulário, recrutamento dos participantes e também para estipular um objetivo de escuta, ou seja: estamos ouvindo o usuário para captar expressões que se referem a que tipo de produto ou serviço da empresa?
Quanto às perguntas a serem feitas, é preciso que haja uma lógica, apresentando-as como perguntas de topo, meio e fundo do funil, por exemplo:
- você utiliza os produtos na nossa marca? em que momentos? (mais genérico, topo de funil)
- quais os produtos ou serviços você mais gosta ou menos gosta? (perguntas mais focadas em usabilidade, meio de funil)
- se fôssemos lançar uma nova funcionalidade o que você gostaria de ver (relacionada ao objetivo da pesquisa, fundo de funil)
Durante a aplicação da pesquisa, fique atento às palavras utilizadas e contextos para poder realizar uma verdadeira “pescaria semântica” (termo utilizado pelo Bruno e que não consigo imaginar outro melhor) das expressões de conotação positiva ou negativa. É interessante gravar esse processo, assim você fica mais livre para dialogar com os participantes e poder relembrar posteriormente tudo o que aconteceu.
Ao analisar os dados coletados, você vai perceber quais os termos mais se repetiram e anotar os significados que eles têm para o grupo analisado. Ele é diferente do significado do bom e velho Dicionário Aurélio e eu vou dar um exemplo do exercício que fizemos durante o curso: estudamos a UXConf, um evento que acontece com grandes nomes da área anualmente em Porto Alegre, e uma das palavras encontradas foi “acessível”.
Para nós, designers UX, esse termo tem muita relação com acessibilidade, uma interface de fácil uso. No entanto, naquele contexto, acessível tinha a ver com o preço e local do evento e o que fazer então? Escreva este verbete e sua aplicação no seu “dicionário de UX Writing”. Na nossa atividade, a descrição para acessível foi: “evento online e/ou itinerante, que, por sua característica torna-se mais barato, facilita a participação de pessoas de diferentes cidades, que podem gastar menos com deslocamento, além do ingresso do evento”.
Por fim, e não menos importante, é hora de documentar e listar as palavras positivas e negativas para cada parte da sua interface: botões e CTAs, títulos e descritivos, alertas entre outros. O importante é elencar o que usar ou não usar em cada momento para se comunicar com o usuário, considerando a linguagem dele.
Acredite! Vale a pena!
Ninguém falou que seria fácil, mas uma boa escrita, especialmente para aplicações digitais, garante a usabilidade e, o mais importante, o engajamento! Afinal, ninguém se sente motivado a utilizar um sistema que não entende ou que não se comunica com o seu jeito de falar, não é mesmo?
Essa técnica é só uma parte do curso do Bruno, que traz várias dicas de boas práticas para UX Writing e tira qualquer apaixonado por escrita de sua zona de conforto! Embora tenha sido bem difícil escrever este texto conhecendo as técnicas (e nem sei se consegui aplicar todas, mas seguirei praticando), recomendo muito o curso, que fiz pela How Education, mas é aplicado por outras escolas de UX. E, se você chegou até aqui, fica mais um segredinho de escrita para interfaces digitais: você sabia que a maioria das pessoas não lê último parágrafo? Pois é! São tantos detalhes que provavelmente será necessário um outro artigo sobre o tema.