A importância de se escrever um código semântico dentro do seu site ou aplicação web mobile
Obs: Artigo criado por Pedro Neves (Front-End Developer | State Scientist), publicado originalmente no canal da Comunidade PretUX.
Recentemente, participei do bootcamp da How Education sobre acessibilidade digital através de uma bolsa da comunidade PRETUX. Inicialmente, meu objetivo neste bootcamp era simplesmente aprender um pouco mais sobre acessibilidade digital e entender como um produto digital é elaborado para ser o mais inclusivo possível. Logo no primeiro dia, algumas coisas me surpreenderam muito a respeito do assunto.
Estou estudando UX Design, mas também estudo e tenho um interesse muito grande no desenvolvimento front-end. Realizei vários cursos a respeito do assunto e sempre soube que era necessário seguir algumas boas práticas para que o site ou aplicação fossem inclusivos para as pessoas, mas a explicação sempre faltava. Quando um professor falava a respeito de semântica ou sobre os textos alternativos nas tags HTML, me parecia muito vago e sem propósito. Acredito, realmente, que isso é algo pouco difundido entre as escolas de programação, pois eu já fiz mais de um curso em diferentes instituições e em todas eram a mesma coisa: apenas uma amostra de “como”, mas sem aprofundar no “porquê”. E aí vem o problema.
E, na real, este foi o problema que encontrei. Simplesmente jogar para os alunos que a semântica é importante porque deixa o site inclusivo ou colocar algo no campo do texto indicativo (para não deixá-lo vazio), não explicam o valor e a importância real desta ação. E com isso os desenvolvedores não têm essa visão totalmente formada.
Observei em alguns momentos durante o bootcamp (onde a maioria era UX ou Product Designers), que muitos deles tinham atritos frequentes com os devs a respeito de acessibilidade e, ouvindo mais a experiência do pessoal, eu percebi que grande parte desses atritos se dava pelo simples fato de que os devs não sabiam absolutamente nada sobre acessibilidade.
Sendo bem sincero aqui: a maioria dos devs que eu conheço encara a acessibilidade como um fator que pode dar um bom ou um mau posicionamento ao produto no SEO(Search Engine Optimization); não pensam, de fato, no real problema que a semântica do código resolve — tornar a vida dos usuários mais fácil ao utilizar ou navegar, seja no produto digital ou site.
Colocar uma borda na caixa de seleção dos inputs no formulário para ajudar pessoas com deficiência visual, é uma ação que os desenvolvedores conseguem fazer em alguns minutos mas que pode virar uma guerra dentro do time por falta de conhecimento e diálogo.
Esse pode ser um problema complexo de se resolver. Na realidade, as pessoas teriam que estudar mais sobre acessibilidade, não só digital, mas no geral.
No contexto digital, acredito que os cursos de formação de desenvolvedores deveriam colocar uma disciplina mínima a respeito de acessibilidade digital, que nem precisa ser tão profunda assim. Passar, ao menos, o básico sobre as regras da WCAG (Web Content Accessibility Guidelines — Diretrizes de Acessibilidade para o Conteúdo da Web) para os alunos terem um norte e de fato entenderem do motivo pelo qual a semântica é importante, para além do simples SEO. Além disso, sempre é válida uma interação melhor entre os designers e os desenvolvedores a respeito do assunto, para que fique claro como isto é impactante para o usuário que tem deficiência.
Um simples texto alternativo pode ser a chave para uma pessoa conseguir ou não acessar o produto. E precisamos entender que esse acesso é o mínimo que podemos oferecer — inclusão é uma das coisas mais importantes atualmente quando o assunto é web/mobile. No Censo de 2010, quase 46 milhões de brasileiros (24%), declararam ter algum tipo de deficiência. Imagina toda essa gente sem acesso aos produtos digitais? Estamos falando, primeiramente, de empatia (essas pessoas podem ser seus familiares, seus avós, um tio ou primo). Sem mencionar a deficiência momentânea que dura apenas um certo período (quando você quebra um braço ou tem uma fotofobia causada por uma conjuntivite, por exemplo).
Concluo pensando que a acessibilidade precisa ser incluída não apenas nos sites e produtos digitais mas também, e principalmente, nas grades dos programadores e designers (nos casos que ainda não tenha). A informação é a melhor arma para lidar com sites e aplicações web/mobile com problemas de acessibilidade. A reportagem da Revista Galileu de outubro de 2019 chegou a conclusão de que menos de 1% dos sites brasileiros são acessíveis para pessoas com deficiência, o que é uma vergonha (para sermos educados aqui). Precisamos nos tornar uma sociedade mais inclusiva e empática. Neste mundo digitalizado é de extrema importância que sejamos exemplos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
IBGE.EDUCA — CONHEÇA O BRASIL — POPULAÇÃO — PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/20551-pessoas-com-deficiencia.html#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20Censo,ou%20possuir%20defici%C3%AAncia%20mental%20%2F%20intelectual. Acesso: 15/03/2021
REVISTA GALILEU — Menos de 1% dos sites brasileiros são acessíveis para pessoas com deficiência. Diponível em: https://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/10/menos-de-1-dos-sites-brasileiros-sao-acessiveis-para-pessoas-com-deficiencia.html Acesso:15/03/2021
Esse artigo foi criado por por Pedro Neves (Front-End Developer | State Scientist), aluno do Bootcamp Acessibilidade Digital, facilitado por Paulo Aguilera (Design Ops Lead e Acessibilidade Digital no Banco Carrefour). Para saber mais e participar da nova edição do Bootcamp, clique aqui.