8h31. Eu abro o LinkedIn e checo os assuntos mais discutidos. Alguns temas chamam minha atenção:
– Os erros mais comuns na busca por empregos
– Metade dos empregados deseja empreender
– Déficit de talentos irá atingir 1,8 milhão de vagas
– Não delegue seu desenvolvimento profissional
– Seu emprego combina mesmo com você?
– Como trabalhar com mais ânimo
Entre os comentários das matérias, um chama minha atenção: “Precisamos urgentemente de um processo acelerado de qualificação para que as pessoas aproveitem as oportunidades geradas.” Marcos Fava Neves.
Vou me concentrar em uma dessas matérias para me ajudar a compor o artigo dessa semana, o déficit de talentos. A matéria original foi publicada no Estadão no dia 25 de novembro com o título “‘Apagão’ de mão de obra no País pode limitar crescimento”. Separei alguns trechos que chamaram minha atenção. Vamos a eles:
- Multinacional de tecnologia está com a tarefa árdua de preencher 500 vagas para suas unidades de Campinas e Belo Horizonte. Os salários variam de R$ 9 mil a R$ 10 mil.
- Aplicativo de entregas garante que seu principal desafio é contratar funcionários para suportar seu crescimento de 35% ao ano.
“O Brasil vive uma severa carência de mão de obra especializada”. Jean-Marc Laouchez, presidente do Korn Ferry Institute.
Pesquisa global realizada com 1550 executivos — desse montante, 100 executivos são brasileiros — apontam que o problema de falta de mão de obra qualificada não é um fenômeno restrito ao nosso país, mas um tema que preocupa em todos os cantos do mundo. Um dos maiores déficits, segundo a pesquisa está relacionado às habilidades digitais (digital skills): aquela proximidade com as novas tecnologias, seu manuseio e mais que isso, um novo mindset. As estimativas dão conta de que até o ano de 2030, mais de 85 milhões de vagas de trabalho não serão preenchidas ou serão preenchidas indevidamente por falta de capacitação profissional.
O Brasil nesse cenário
A pesquisa realizada pela empresa de Recursos Humanos Korn Ferry aponta que em 2020, o país terá um déficit de 1,8 milhão de pessoas para vagas que exigem maior especialização — considerando as vagas abertas e aquelas que serão preenchidas de maneira inadequada. A previsão é que esse número cresça a uma taxa de 12,4% ao ano — culminando no número de 5,7 milhões de vagas até o ano de 2030.
O impacto da falta de especialização na Economia do país
Ainda segundo a pesquisa, as empresas deixarão de faturar US$ 43,6 bilhões (cerca de R$ 183 bilhões) até o fim de 2020 por não encontrarem mão de obra especializada para áreas estratégicas do negócio, o que indica que, mesmo com o aumento de demanda, será um grande desafio gerar novos negócios ou aumentar a capacidade produtiva por falta de profissionais qualificados.
Tecnologia acelerada, pessoas em ritmo lento
O levantamento realizado pela Korn Ferry aponta algumas áreas como gargalos que impedirão o crescimento das empresas e da economia, entre eles: segurança da informação, cientista de dados, analista de marketing digital e de desenvolvimento de produtos tecnológicos. Todas essas áreas estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento tecnológico e digital das tecnologias.
O que os setores deixarão de faturar
No mundo, as principais áreas e as perdas de faturamento estão configuradas da seguinte forma:
Tecnologia, mídia e telecomunicações deixarão de faturar cerca de 112 bilhões de dólares; Negócios e serviços bancários deixarão de faturar 340 bilhões de dólares e o setor de Manufatura deixará de faturar 188 bilhões de dólares (veja a tabela abaixo):
Processos acelerados de qualificação
Com esse cenário apresentada na pesquisa realizada pela Korn Ferry, voltamos ao tema discutido várias e várias vezes em nossos artigos: a qualificação profissional, a aquisição de novas habilidades e o aprendizado contínuo. Todos esses temas exigem uma concentração de esforços e um processo colaborativo na tentativa de encontrar caminhos — evidentemente, não existe apenas um caminho. Essa concentração de esforços deverá ser feita pelas pessoas — sempre com elas antes — por organizações privadas, por governos, empresas do setor de ensino — das tradicionais àquelas que estão apresentando novos rumos para a educação. Havia listado algumas iniciativas e a divisão de papéis aqui, mas vale a pena falar sobre isso novamente:
1. Os sistemas tradicionais de ensino e as universidades não conseguirão fazer todas as entregas necessárias no tempo devido, mas não devem ser as únicas responsabilizadas por isso.
2. As organizações privadas terão que ser mais presentes, participando ativamente da reconstrução desse profissional — que pode ser através da criação de seus próprios sistemas para diminuir esse gap de ensino (como universidades, treinamentos, cursos etc), através de incentivos e destinação de verba para o aprendizado de seus profissionais ou mesmo associação, parceria ou aquisição de empresas de educação que oferecem cursos rápidos.
3. E o governo? Vivemos um grande retrocesso no que diz respeito aos investimentos em educação, justo quando é necessário que se invista mais na formação das pessoas, no ensino do pensamento crítico, nas habilidades que farão diferença para um futuro próximo e na capacitação de profissionais de educação, unindo o conhecimento teórico com as experiências práticas de quem vive e aplica o conhecimento no dia a dia. Será necessária uma mudança de postura por parte dos governantes e das políticas de investimento em educação para que não tenhamos um número ainda maior de analfabetos digitais.
4. Nosso papel. Se no passado poderia ser uma estratégia confortável lavar as mãos acusando as partes acima de não terem cumprido com seus deveres, a realidade que bate à nossa parte é que com a quantidade de informações disponíveis, com valores acessíveis para todos e com infinitas roupagens e formatos, não há como criar desculpas: são cursos online, formações completas e gratuitas, entregas de conteúdo relevantes, os tutoriais do YouTube, as formações criadas para nichos específicos, eventos e palestras, cursos de curta duração, possibilidade de aconselhamentos por mentores, troca de conhecimento peer to peer, aprendizado por estudos de casos e tantos outros modelos que, comprovadamente, farão de nós profissionais e pessoas melhores. Simplesmente não dá mais para cruzar os braços.
Renato “Minas” Buiatti é educador e cofounder da How.