Algumas dicas para incrementar o portfólio
Nota: Artigo criado por Rodrigo Oliveira (Brand Designer Sênior na Quero Educação), originalmente publicado aqui.
O mercado das startups está tão em alta nos últimos anos que quando você é apresentado para esse universo, quer entrar nele a todo custo. Empresas descoladas, disruptivas, que te deixam andar de pantufa pelo escritório, cerveja liberada, cheia de gente jovem jogando ping-pong, uau!
Apesar de eu ter falado isso em um tom irônico, estou inserido nesse contexto desde 2016, e não pretendo sair dele na verdade, realmente eu gosto bastante. E eu percebo que existe pouco conteúdo específico que ajude pessoas de algumas disciplinas a tentar ingressar nesse ambiente. Então, bem devagar estou tentando mudar pelo menos ao que me cabe.
A motivação para publicar esse texto ocorreu durante a avaliação de portfólios para um processo de contratação da empresa. Conforme eu ia observando os trabalhos, anotava pontos de melhoria que poderiam fazer alguma diferença quando você está em uma fila de triagem para concorrer a uma vaga.
E de repente eu percebi que tinha um texto inteiro na mão, então vou compartilhar aqui essas dicas que eu gostaria muito de ter recebido antes também.
Lembrando que eu nunca serei dono de razão nenhuma, só estou compartilhando percepções minhas sobre alguns detalhes que podem ajudar a montar um portfólio mais atrativo. E além disso, essas percepções são muito mais voltadas a pessoas que buscam uma oportunidade dentro de uma startup (e não é toda startup também, as dicas que eu estou compartilhando tem uma abordagem mais generalista, mas definitivamente não é uma regra que toda startup aplicaria). Com certeza as recomendações seriam diferentes no caso da aplicação para vaga dentro de uma agência, por exemplo. Até mesmo um portfólio de freelancer seria bem diferente.
Devidamente alinhados, então vamos lá.
1- Nem mil, nem um.
Equilibre na quantidade de trabalhos publicados. Você, melhor do que ninguém, vai conseguir filtrar no seu portfólio os trabalhos mais relevantes e os que mais se orgulha, mesmo que em escala experimental ou fictícia. Não precisa colocar absolutamente tudo que você fez na sua carreira. Mas ao mesmo tempo, não deixe o portfólio vazio demais, senão não existe critério e não tem como saber quais são as habilidades técnicas que você mais se identifica.
E se o portfólio está vazio realmente por você não ter feito tantos trabalhos, dedique um tempo para fazer projetos fictícios, seja de uma empresa de mentira ou o rebranding de uma marca famosa, ou até mesmo algo mais conceitual que você queira extravasar sua arte. É um tempo que super vale a pena investir, não vai arrancar pedaço e mostra seu interesse e empenho pela disciplina, mesmo sem ter anos de experiência. E isso conta demais.
2- Imagem solta não é trabalho feito.
Contextualize, expliquei o que você fez. Um erro bem comum do Design Gráfico é a gente achar que apenas mostrar a beleza do resultado final está mais do que suficiente. Mas quando você traz na apresentação quais foram as motivações para a criação daquele projeto, qual era o problema que precisava ser resolvido e o porquê de ter escolhido o caminho visual que escolheu, isso atrai demais. E as vezes o resultado visual em si pode até deixar a desejar, mas esse conteúdo em torno do projeto enriquece muito o trabalho. Eu já vi portfólio de gente que publicou um projeto bem nesses moldes, e além disso tudo linkou um texto no Medium detalhando todos os bastidores, eu achei incrível.
3- Preguiça de publicar? Então não publique.
“Ai meu Deus, apliquei pra uma vaga mas não tenho nada no portfólio, deixa eu tacar um monte de .jpg que eu tenho aqui que já resolve.” Se você não tem capricho nem no seu portfólio, que é algo pessoal, imagina trabalhando para os outros. As vezes não publicar é melhor do que publicar de qualquer jeito.
4- Variedade é a chave.
Se só tem post de rede social no seu portfólio, eu vou achar que é só isso que você sabe fazer. A não ser que o intuito seja realmente de se vender como especialista em algo, a falta de variedade pode sim ser prejudicial, visto que dentro de uma startup você provavelmente vai executar uma função mais generalista, e não focada especificamente em uma única tarefa. Você vai acabar fazendo um pouco de tudo, e é interessante que essa multidisciplinaridade esteja representada de alguma forma no portfólio. Tente explorar outras mídias, tanto on como offline. Não estou dizendo para ter todas as peças de todas as mídias, mas isso serve para mostrar o quanto você é dinâmico e consegue transitar entre diferentes desafios. E de novo, se não tiver esses projetos na gaveta, dedique aquele tempo de criar projetos fictícios.
5- Evite publicações de “Logofólio”.
Essa dica polêmica veio de um outro texto que eu li que dizia basicamente o que eu coloquei na dica 2. Se você busca uma vaga relacionada a Brand Design por exemplo, não é um ‘packzão’ no Behance com 15 logos que você fez que vai entregar o que a vaga requer, isso chega a estar mais ligado a Icon Design do que Brand em si. Pois sem um contexto de construção não só do logo, mas de toda sua identidade, variações, desdobramentos, pesquisa, posicionamento, persona, tom de voz, etc o trabalho se torna mais um ícone isolado do que uma marca propriamente dita.
6- O “usuário” do seu portfólio nem sempre vai ser um designer.
É super legal você ter um domínio próprio, um site personalizado, eu acho lindo, show de bola. Mas mesmo assim, ainda tenha um perfil no Behance atualizado. No quesito recrutamento, é a forma mais prática do seu trabalho ser visto. Já recebi depoimentos de recrutadores apontando que não conseguiam ver o portfólio da pessoa porque o site não abria, ou era muito lento, ou a navegação era complexa demais. Nesse caso, fazer o básico bem feito é a solução. Não desista do Behance, ele funciona.
7- Falando em Behance, suas avaliações também contam.
Curta trabalhos de outras pessoas no Behance, isso vai dar uma boa noção dos tipos de referências que você consome, seus gostos e interesses artísticos. Não que isso seja um critério eliminatório, de forma alguma, mas é um ponto positivo que reforça o quanto você interage e se atualiza dentro da disciplina e mostra que você não está parado, mas sempre buscando ideias novas.
8- Cuidado com os projetos de “vários proprietários”.
Se não for possível especificar o papel de cada integrante da equipe na apresentação do projeto, já prepare uma boa resposta, pois existe uma chance dessa questão ser levantada no processo de entrevistas. A gente sabe o quanto é comum nesses projetos a existência de 2 ou 3 pessoas que fizeram o projeto todo que no final tem 5 nomes. Então por mais que esteja tudo lindo e maravilhoso, isso pode ser questionado.
Bom, lembrando de novo que essas são apenas percepções de um Brand Designer que passou um bom tempo avaliando portfólios e observou a possibilidade de melhoria em vários deles. Quem sou eu na fila do pão, mas achei válido escrever pois não vejo muita coisa desse tema voltada pro universo de startup, além de ser tudo muito vendedor e menos realista. A maioria dos textos que vemos por aí é de “como criar um portfólio top para atrair mais clientes”…
Outro ponto importante é que essas dicas estão puxando mais para o lado tático/operacional do Design, onde uma avaliação técnica é bem importante para entender o valor que a pessoa pode agregar para a empresa no curto prazo e qual é o tipo de desenvolvimento interno que precisaria ser acompanhado com cada um. Claro que para posições de Design mais estratégicas, analíticas ou com outras necessidades, o portfólio teria um peso diferente e um modo de apresentar também.
Se você chegou até aqui, primeiramente muito obrigado. E se quiser continuar a conversa, fique a vontade para mandar uma mensagem! 🙂